No fim do ano passado, uma amiga preciosa me surpreendeu com o envio de três livros pelo correio (no fluxo de muita amizade que fiz por anos, entre Rio - BH, ela foi um dos presentes). Um deles era Lutas e metamorfoses de uma mulher, do autor francês Édouard Louis.
O livro está emprestado com uma amiga, o que me impede de trazer trechos que tornem a minha visão mais precisa neste momento. Mas como sempre anoto algo sobre as minhas leituras, trago aqui um trecho que escrevi à mão: “Um relato sobre a destruição que a masculinidade provoca na vida de tantas mulheres”.
Quero e pretendo complexificar a leitura que fiz desse livro. O autor fala, inclusive, de um tema que me é muito caro: a arrogância da/na academia. Além disso, fala sobre como o filho, nascido em meio pobre e cercado de violências que a mãe sofria por parte do pai, se “reencontrou” com ela em sua vivência como homossexual. Recomendo fortemente o livro.
Vou me ater aqui à forma como a indignação e a raiva de sua mãe, diante de uma vida tão cerceada de paz e prazer, a fez se movimentar em prol de si mesma. A fez procurar formas de sair de tal contexto. Sabemos bem, como a socióloga brasileira Heleieth Saffioti nos lembra, que muitas vezes o querer não nos permite sair de ciclos de violência - infelizmente. Mas a história que cito tem um final feliz.
Conversando com uma recente amiga sobre a noção de raiva que trouxe no meu último texto, refleti sobre como, por muito tempo, acreditei que a raiva fosse um elemento nefasto. E, com o tempo, comecei a olhar com amor para essa forma de vivenciar e agir no mundo. A raiva como potência.
E aí? O que isso tem a ver com a mundo bélico no qual vivemos? Bem, isso tudo, hoje, me fez pensar na obra de Virginia Woolf, autora que eu admiro enormemente: As mulheres devem chorar... Ou se unir contra a guerra: Patriarcado e militarismo.
A raiva e o ódio bélico e falocêntrico não conversam. A potência que a raiva proporciona de sair do lugar nada tem a ver com o “temperamento” “raivoso” e violento que a masculinidade defende como princípio dela mesma. A destruição e a dominação do “outro”, dos “outros”, das “outras” pelo noção de masculinidade não se aplicam, justamente, a essa forma de agir. Os princípios do masculinismo são aniquiladores desses “outros”. Édouard Louis o explicita, em menor escala, ao falar dos seus impactos sobre a vida da mãe - Monique.
Vou finalizar com um comentário que encontrei hoje sobre as “tensões” entre Israel e Irã hoje:
Virginia Woolf estava certa em 1938. Que final nosso mundo terá?
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Meus agradecimentos às amigas: Karine Rodrigues (amada, pelo envio dos livros e muito mais) e Thais Lourenço (pelas importantes trocas nos últimos dias).
A raiva tbm tem uma potência muito criativa, não só destrutiva. Até hoje não li Édouard 😕